segunda-feira, 22 de junho de 2009

Mourning, black lights

Há um mês recebi a notícia de que um grande amigo meu, de quem eu já não era mais próximo, havia morrido. Foi um choque pra mim como poucos até agora. O acidente de carro foi horrível e nunca se saberá em que condições ocorreu. O carro de Rogério saiu da pista e colidiu de frente com um caminhão. A TV mostrou, o jornal noticiou. Não sobrou nada. Se ele dormiu, estava drogado, ou foi suícidio nunca se saberá.
Nós nos conhecemos na fila do show do Morrissey. Ele era o oitavo da fila, eu o nono. Só esse fato já explicaria nossa aproximação. Mas descobrimos em poucos dias que apesar de termos vidas muito diferentes, tínhamos um conceito próprio e particular a respeito da vida e das pessoas. Fazíamos aniversário no mesmo 02 de junho. Tínhamos essa identificação com a música, com o Morrissey e nós mesmos. Ele trouxe para a minha vida o Suede, eu levei pra vida dele a Marina. Ele fazia ótimos jantares e almoços na nossa casa, eu continuo sabendo ferver água.
Ele tinha dois filhos e eu imagino como isso deve ter sido destruidor na vida das crianças. Eu estava há tempos pra escrever sobre essa morte, mas só ontem criei coragem quando vi no My Space a foto de um cara idêntico ao Rogério. Foi uma espécie de alerta. Eu sou uma pessoa de pouquíssimos amigos e saber que o Rogério existia me dava uma aliviada na solidão de ser quem e como sou. Estou mais sozinho, mais triste. Na penúltima vez que o encontrei ele me mostrou sua nova tatuagem com a palavra silêncio exatamente no mesmo lugar onde é a minha.
Era assim que as coisas aconteciam.
E era assim que eu via acontecer.
The golden lights were turn off.

RUBBER RING ( by Morrissey)

A said factor widely know
How a most impassionate song
To a lonely soul
Is so easily outgrown
But don't forget the songs
That made you s m i l e
And the songs that made you c r y
When you lay in awe
On the bedroom floor
And said: "Oh smother me, Mother ..."

The passing of time
And all of its crimes
Is make me sad again
The passing of time
And all of its sickening crimes
Is making me said again
But don't forget the songs
Tha made you c r y
And the songs that saved your l i f e
Yes, you're older know
And you're a clever swine
But they were the o n l y ones who ever stood by you

The passing of times leaves empty l i v e s
Waiting to be filled
The passing of t i m e
Leaves empty l i v e s
Waiting to be filled
I'm here with the cause
I'm holding the torch
In the corner of your room
Can you hear me ?
And when you're dancing and laughing
And finely l i v i n g
Hear my voice in your head
And think of me kindly

Do you
Love me like you used to ?

domingo, 7 de junho de 2009

Na Cama Sem Vanguart

23:50 - 05/06/ 2009 - saio da minha cama quentinha com forte dor de garganta para enfrentar a noite gelada. Hoje é sexta-feira. Show do Vanguart no Ox, no Ocidente.
COM uma hora de atraso, depois do Pública, a banda entra no palco. A figura esquálida e cabeluda de Helio Flanders assombra o palco. Ele rasga a potente voz para o delírio de uma plateia que sabia e queria o que estava por vir. Ninguém se decepcionou. Palco e público viveram um Grande momento. O vocalista cumpriu a risca sua performance irresistível. Amável, sincero, enfant terrible, conquistador. Ele olha fundo no olho de um menino, depois de uma menina nas primeiras filas de um jeito que faz a gente acreditar, sim, estamos falando a mesma língua e sentimos a mesma coisa. Senti no meu próprio olho. You know me so well, I know you as well. Obrigado Flanders. A projeção está feita pra sempre, o elo. Perfeito para um ídolo rocker. VANGUART é folk rock, é muito mais, é música. A banda de Cuiabá vai se transformando em gente grande na música brasileira. Helio Flanders está no topo do topo da pirâmide dos novos letristas com estilo muito próprio e isso no Brasil de hoje é um caso raro, raríssimo.
NO palco o artista saboreia o seu momento máximo. Vanguart experimenta isso todas as noites. Dorival Caymmi merecia ter vivido alguns meses mais para ter conhecido o arranjo maremoto de O Mar . South America, Miss Universe, Hemisfério, em espanhol, inglês ou português, Flanders é craque em qualquer língua. Impossível destacar os highliths da noite, tudo foi muito bom. Inesquecível foi Enquanto Isso Na Lanchonete e Semáforo, clássico.
A BANDA toca como funciona um relógio suíço.
HOLOFOTES para o guitarrista bom-moço David Dafre e seus passinhos de bandinha alemã. Um Kraftwerk clonado. Tão concentrado estava nos acordes perfeitos, que parecia estar longe. Era incerto se ele estava lá no palco ou lá em outro lugar. No bis a confirmação : ele estava totalmente com a banda todo o tempo. Grande cara. A noite se fortaleceu com a participação de um ok Arhtur de Faria, recebido com entusiasmo pelo público. Sua gaita em Robert foi eficaz e o bar tremeu ainda mais. O clima se alternou entre terremoto, maremoto e demais abalos sísmicos durante as quase duas horas de show.
FALTOU The Last Time I Saw You, mas sem Mallú Magalhães não daria mesmo. O show estava acabando e vieram os inevitáveis "toca Raul" de um lado e o adequado e surpreendente "toca Mallú " de outro, sintetizando o que é o Vanguart. Hey yo vangs !
VOLTEI pra minha cama com a garganta ainda mais estourada e o coração mais quente.

terça-feira, 2 de junho de 2009

CECÍLIA/HENRIQUE - qualquer poema bom vem do amor narcísico (Antônio Cícero)

CECÍLIA.
NÃO VOU TER UMA FILHA CHAMADA CECÍLIA.
SEMPRE imaginei que tendo uma filha ela se chamaria Cecília. Acho a palavra linda e gosto de sua sonoridade, assim como a da palavra silêncio. As duas tem bastante "s". Português é uma língua repleta de "ss" e isso me agrada.
NÂO, não vou ter uma filha chamada Cecília. Não vou sequer ter um filho chamado Henrique. Ninguém pra cuidar, ninguém pra vestir, ninguém pra guiar, ninguém com quem se envolver de verdade, pra sempre e definitivanmente. O elo invisível e inquebrantável. O futuro, o fruto, a continuação bíblica da vida, o descanso para a grande questão humana. O conforto da mortalidade aceita.
NÂO, não, não vou ter uma filha chamada Cecília. Cecília pra me preocupar e perder meu tempo, obrigado Cecília, por me desviar dos meus icebergs de neurose. Obrigado Cecília por me aliviar disso tudo. Sim, um outro mundo é possível, além de Davos. Graças à Cecília. Thanks Cecília. Cecília que falaria línguas.
NÂO não não não vou ter uma filha chamada Cecília. Ela, que provavelmente me arrancaria do fundo desse buraco, reclamando para si uma Vida que precisa ser cuidadosamente cuidada e assistida. Responsabilidade demais pra criança Cecília, um adulto devia saber cuidar de si mesmo. Obrigado Mulher-maravilha Cecília. Obrigado Cecília, agora eu tenho o que fazer e cuidar de você é a melhor coisa do mundo. Obrigado.
NÂO não não não e não, não vou ter uma filha chamada Cecília. Uma menina que chamaria meu nome e pararia tudo. A vida pode esperar e se não poder, dane-se a vida, afinal, Cecília chama. E, se ela chama, tudo pàra.
Não não não não não não vou ter uma filha chamada Cecília para me chamar. Chamar à vida, chamar às claras, chamar à realidade, chamar às favas. Portanto, o mundo nunca vai parar e o tempo vai continuar pequeno e correndo a revelia a anos luz. A palavra Cecília não será saboreada todos os dias, mastigada sílaba por sílaba com gosto, sobrará o silêncio, ela não me chamará e o elo continuará perdido como no seriado tosco. O outro mundo não será possível e o buraco se aprofundará.
NÃO VOU TER UM FILHO CHAMADO HENRIQUE.