domingo, 31 de maio de 2009

COLD COLT

O CÈU ABRIU CINZA. Coragem pra secar os olhos, de novo. Ele sempre vê bobagem e lê dentro de mim no escuro. Roubam-se as palavras. Pouco ainda importa porque a urgência tomou conta do pensamento, do tempo e do comportamento. Desaceleração dos sentidos, menos o de saudade, se é que saudade é um sentido, mas agora já não mais importa. Não importam conceitos, não importa nada. Para que servem as ruas ? Provavelmente é, ou ainda será, o tamanho tamanho de tudo isso. Qual será o tamanho de tudo isso ? Chistes que só podem ser entendidos por quem de fato conheceu, entendeu e achou que viveu. Chistes. Mas esse é um segredo meu e do Morrissey, sorry periferia. Pouco ainda importa. Pouco há o que fazer a não ser esperar, esperar no vão dos minutos. Agora a espera é boss, rainha e capitã. Quase nada pra se fazer sem ter as ferramentas para torcer o destino. O mundo é pouco pra nós. Beat dilacerado, coração perdido num imenso armazém repleto de ecos reverberando em low fi o segundo anterior.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

SIMPLESMENTE FELICIDADE

A FELICIDADE INSTANTÂNEA ESTÁ NA NOVELA. Acredita quem for suficientemente estúpido. No filme Simplesmente Felicidade a coisa não é bem assim. Ali o sério e o engraçado viram alegria. A genuína felicidade de Popy, a protagonista, causa estranheza dentro e fora da tela. Uma pessoa incondicionalmente feliz ?! ? Como assim ?????? A heroína é uma balzaquiana londrina que é feliz, antes de tudo e de todos. Assim, simples, feliz. Quem não gostaria de ver o mundo pelas lentes dela ?
A ABERTURA DO FILME DÁ UMA IDEIA DO QUE VEM POR AÍ. Vemos essa mulher com um sorrisão nos lábios, uma satisfação contemplatória andando de bicicleta pelas belas ruas de Londres. Observando melhor a sequencia nos damos conta de que ela não está andando de bicicleta. Popy está passeando. Aproveitando o momeinto, inteindi ? Chegando ao destino, prende sua bike num cadeado, vai a uma livraria de bairro. Quando volta a bicicleta não está mais lá. Foi roubada. Reação : pena que não deu tempo pra eu me despedir dela, diz Popy, e sorri. É tolo, mas no desenrolar da trama tudo vai se encaixar com muita graça . Tudo por culpa e obra da atriz Sally Hawkins, em um desempenho soberbo, que lhe rendeu um Globo de Ouro. Vamos aprendendo que essa singular criatura é uma ótima pessoa, namoradeira, adora dançar e tem a palavra sim sempre pronta. Professora de crianças de seis anos, se preocupa de verdade com elas. Ou seja, tem uma vida comum, mas encara tudo de um jeito diferente, leve.

MOMENTO DE REFLEXÃO BUDISTA - O que aonteceu conosco que não somos nem uma pálida lembrança de Popy ? O mundo, a vida nos endureceu ? Não acredito. A maldade, a crueldade e a desintegração geral de tudo nos amedronta ? Sim. A televisão dissemina o medo e a competição ? Também. Mas não é só isso. A desesperança é mais fácil. Claro que é. A preguiçosa desesperança. Pessimismo não dá trabalho. Esse chavão é verdadeiro, ser feliz dá trabalho e é meio bobo. É uma dessas coisas que temos que cultivar, regar diariamente. Eu, confesso padre, porque pequei, deixei minha felicidade na maior seca desde sempre. E acho que isso vem acontecendo com grande parte de nós.

È POSSÍVEL EXISTIREM POPYS NO MUNDO ? Será que existem ? Como eu disse lá em cima, no universo televisivo existe. E nossa insatisfação aumenta na medida em que a vida dura de todos os dias vai envergando esperanças e os momentos que eram pra ser bons vão sendo borrados por uma tinta cinza aniquilante. Popy e suas amigas conversam sobre assuntos espinhosos da vida contemporânea com propriedade crítica e clareza. Nada abala nossa Poliana século XXI. Nada afeta seu humor. Nem A Família. Numa briga com a irmã certinha Popy reclama para si o direito de ser como ela é, sem querer se preocupar com aposentadoria privada ou a idade "certa" para ter filhos.

ESTOU ESCREVENDO UM TEXTO CÍCLICO DENTRO DE UM LABIRINTO. As paredes são feitas de perguntas insolúveis, respostas fáceis e afirmaçõse banais. Não sou um expert nesse negócio de contentamento e felicidade. Por isso estou me perdendo. Talvez não devesse escrever um texto conhecendo apenas o lado negro da força. A questão é esse filme ter balançado o meu trono de infelicidade e derrota, aborrecidamente cotidianas. Normalmente estamos bem instalados ali no conforto de nossas convicções e valores absolutos. Ocasionalmente vem um tornado e leva tudo. E agora ? Seguimos nosso castelo de regras pessoais onde somos senhor e escravo ou olhamos para o lado piscando torto para o desconhecido ?

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Deixe estar, vai passar

ESSA é uma das músicas que eu mais gosto da Marina. Deixe estar. Com sorte, muita sorte, vai passar. Não se assuste se tudo enguiçar .
INFELIZMENTE EU conheci a Marina muito tarde. Claro, conhecia ela dos hits do rádio e achava bem legal. Daí, um dia, comprei o quinto disco dela. Se arrependimento matasse eu já estaria nas cinzas. Como sempre, comprei tudo que faltava. Voz rouca, cantando as poesias do seu irmão, as vezes só dela, raríssimas vezes de outros. Tudo num "padrão antes". E eu me perguntava como eu não tinha me dado conta desse padrão antes mais cedo. Ela antecipava um conceito, uma visão, um modernismo sem modismo, um estilo de vida com muito estilo, que eu classificava e classifico de antes. Fui picado e daí pra frente, no universo dela fui mergulhando.
MARINA TEM MAR no nome. As letras são recheadas de mar, maresia, marinheiro, marujo, marola, marinho, maré e tudo que o mar possa transformar em versos. Garota Zona Sul. O Rio de Janeiro vem na voz, gravado no DNA. As canções atuais tem sido compostas sempre com bases eletrônicas. O flerte com o eletrônico começou no início dos 80, se transformou em namoro e depois veio a relação estável. Eu adoro. Nessa época o país ainda acreditava que Mutantes eram os eternos modernos, coitadinhos. Não estou discutindo a imensa genialidade dos caras. Ave Mutantes.
A MARINA É MUITO COOL. E essa expressão é rara de ser usada no Brasil. Afinal, quem é cool no Brasil ? Não me ocorre ninguém. A Marina passou grande parte da infância nos Estados Unidos. Na volta definitiva pra cál, com a família, de transatlântico, cantou na companhia de Tom Jobim, que fazia um show em alto mar. Pois é, a estreia no palco foi no meio do oceano. Ela não tinha gravado nenhum disco ainda. Cool.
EU E A MARINA TEMOS A MESMA LOJA PREFERIDA, a Urban Outtfiters, de Nova York. Li isso numa Caras, hehehe. Ela teve uma grande depressão há uns anos atrás. Perdeu os famosos graves em decorrência da fase péssima, mas pra mim não mudou nada. Ficou uns anos sem gravar nada. Era solidão com vista pro mar. O disco seguinte foi oportunamente batizado de Registros à Meia Voz. Foi muito bem recebido pelo público e o cd seguinte chamou-se Abrigo. Era uma referência a acolhida dada pelos fãs, traduzida na vendagem de Registros. O Hotel Marina quando acende em Ipanema brilha mais. Naquela época eu escrevi um texto sobre ela numa revista on line na qual eu tinha uma coluna. O texto acabou nas mãos da carioca através empresária. Marina gostou do que leu. Eu tive uma resposta direta de que tinha pegado o punch da história. Foi muito legal. Aqui em Porto Alegre fui convidado pra ir conversar com ela no camarim do show de Abrigo, mas minha baixa auto-estima foi mais forte. Falei com ela em duas outras ocasiões, mas rapidamente. Ela é muito pequena, magra e branca como papel.
QUANTOS SHOWS EU JÀ ASSISTI DELA, perdi a conta. O mais marcante foi um que eu estava na segunda fila. Tinha extraído os quatro cisos, com anestesia geral, e ainda não estava na hora de sair de casa. O som alto e grave reverberava pelos pontos e vibrava nas cavidades de uma maneira que só quem tirou os 4 cisos de uma vez só e foi ver um show antes da recuperação pode saber. A dor ia e vinha em salvas, aplausos e bis. Eu faço esse tipo de coisa. Como já disse no último texto, eu sou um homem de plateia. Já voltei da praia antes do tempo pra ver a Maria Bethânia, que por sinal, fez sua primeira incursão no mundo da batida eletrônica gravando uma canção da Marina, foi Doce Espera. O resultado tem que ser ouvido.
QUANDO A MARINA PARTICIPOU DO SAIA JUSTA desvendei umas coisinhas sobre ela. Descobria a cada programa mais um pouco daquela personalidade que eu supunha conhecer. E até que conhecia mesmo. Na verdade ela me surpreendeu. A inteligência, o humor, o conhecimento de psicanálise e a maneira de colocar as ideias me empolgaram. Yes. Acredito que a chamaram pro Saia pela sua amizade com a Fernanda Young, e, claro, porque ela tinha a ver com o brain storm show. As duas são amigas e comadres. Marina é madrinha de uma das filhas da histérica, fazida e fantástica escritora.
RECENTEMENTE MARINA FEZ 50 ANOS. Trendy litlle thing. Mais do que uma vida. Amiga e colega de Cazuza. Imagino o que poderiam estar aprontando juntos. Parceira de Lobão, Fernada Porto, Lulu, Adriana Calcanhoto, Caetano, Zizi Possi, Christian Oyens, Martinho da Vila, Paulinho da Viola, Tom Jobim, Rita Lee, Suba, e, claro, Antônio Cícero. Já gravou o ícone multimídia - Laurie Anderson. Pousou nua pra Playboy. Fez temporada de quatro meses em hotel de São Paulo a peso de ouro. Participou de filmes. É habitué de estreias e desfiles. Está gravando todo o próximo cd aqui em Porto Alegre. Foi o primeiro clip da MTV Brasil, inaugurando em terra brazilis a retransmissora americana com sua versão de Garota de Ipanema. Mix da bossa nova com a new bossa. Tom Jobim e Marina, de novo, ela com suas antenas sempre girando, cooptando e captando o Antes.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

MORRISSEY, MEU IGUAL A MIM FAVORITO

TENHO OUTROS IGUAIS A MIM. A Marina está em segundo lugar. Mas o Morrissey é o topo do topo do topo do podium e da minha própria imagem refletida há tanto tempo. No começo dessa história louca, minha amiga de colégio, Patrícia, foi fazer intercâmbio em Londres e trouxe de lá discos do The Smiths. Todas as letras e vocais eram dele. Dele ? Ou meu ? Ou meu e dele ? Bastou. Parecia que eu tinha escrito todas aquelas canções, foi muito desconsertante . Foi como entrar num buraco negro, sem nunca mais me importar com a saída. Nunca vi a luz no fim desse túnel. Thank god.
COMPREI TUDO QUE TINHA DISPONÍVEL DO MORRISSEY NO BRASIL. Todos discos, revistas, tudo. As capas dos discos e a imagem dele são trabalhadas com cuidado pelo próprio, maquiavelicamente. Construiu uma mitologia cuidadosa e sem furos ao seu redor. Como pode tudo nele/dele ser tão gay e tão adequadamente colocado. Ergueu em torno de si uma barreira que toda mídia tenta quebrar já sabendo que vai sofrer uma inevitável derrota. Mas eles tentam, sempre. Frost Morrissey. A língua afiada tem sempre a resposta que escalpela o interlocutor, em qualquer assunto, sobre qualquer pessoa. O desprezo por seus colegas de profissão já gerou todo tipo de confusão e desconforto. Ele mostrava nas entrevistas tudo que eu era e tudo que eu queria ser. Transforma(va) em arte tudo o que eu consigo apenas transformar em reclamação e silêncio. Faz do limão uma limonada azeda ou muito doce, irresistível. Transita entre o pop e o rock como bate o coração, como se respira, como a noite cai.
EU ACHO RIDÍCULO TER ÍDOLOS, LOGO EU. Mas o que eu posso fazer ? Tenho comportamento de fã quando se trata desse homem de olhos azuis e 51 anos. Tem gente que nasceu para o palco, eu nasci para a plateia. Isso me incomoda demais. Tanto como morrer sem nunca ter morado em NYC. E foi justamentei lá que eu vi o Morrissey ao vivo pela primeira vez. Por causa de um dia apenas já tinha perdido um show dele no Summer Stage do Central Park um ano antes. Foi no Beacon Theater. Era 29/02/1999. Dá pra acreditar - vinte e nove de fevereiro de mil novecentos e noventa e nove. Eu tava tão nervoso que do show não lembro ABSOLUTAMENTE nada. Só tenho guardada a cena de muito gelo seco e ele, lindo, de camisa azul e jeans. Que absurdo. Voltei pra Porto Alegre e um mês depois ele se apresentou aqui. O raio caiu duas vezes em mim. O show daqui eu lembro um pouco mais. Pela segunda vez na minha vida assisti a um show grudado no palco. Nas idas a NYC eu comprava horrores de coisas dele. Morrissey conheceu cedo seu poder de vendas e não deixa barato. Discos, singles, compilações, edições japonesas com uma música inédita, livros, dvds, entevistas gravadas, opções de diferentaes capas. Os fãs compram tudo mesmo. A American Express aplaude de pé.
APRENDI INGLÊS PRA ENTENDER O QUE AQUELAS PALAVRAS DIFÍCEIS ATÉ PARA OS BRITÂNICOS COMUNS QUERIAM DIZER. O Morrissey já foi apontado como o maior poeta inglês vivo. Quando eu fui pra Londres ficava, infantilmente e secretamente esperando que ele aparecesse naquela virada de esquina. Ele sempre está na midia do velho mundo e suas músicas tocam mais na europa. Aqui, por incompetência e preguiça dos programadores só toca velharia. Ele é um caso pra quem gosta de conhecer uma pessoa não pelos escândalos nem por entrevistas que não dizem nada. Está tudo no trabalho. Já ouvi dizerem que para ouvir Morrissey é preciso gastar um pouco de tempo, se dedicar e decifrar aquilo tudo. E assim é. As peças vão se encaixando e uma pessoa vai tomando forma por meio de canções. Os shows lotam por onde ele passa e o público tem sempre a mesma cara, a minha cara. É muito estranho. Vi meus semelhantes no saguão de espera em NYC e aqui na fila em Porto Alegre, à distância, sempre. Vejo os shows em DVD e eu estou lá também, eu sou aqueles caras e eles são eu. A plateia tem sempre a mesma cara e é igual em qualquer país. É impossível eu assistir ao último DVD e não chorar. Estranho essas minhas reações até hoje. Até acho meio engraçado, mas sei que, no fundo, é ridículo. É viver a vida através de outra pessoa que na verdade eu acho que conheço, mas só conheço efetivamente no pedestal que eu mesmo construí. Mas, sei lá, afinal, todo mundo precisa acreditar em alguma coisa. Por incrível que pareça, eu também sou gente, se isso dá um pouco de conforto e momentos bons não deve fazer tão mal. A realidade já é suficientemente pesada e sufocante. Black sky in the day time.
No meu quarto eu lia o que ele compunha, ouvia essa voz inexplicável que ele tem. Faço isso até hoje. O tempo todo. Acho, e espero, que nunca acabe. É quando eu sou exatamente eu, explícito, 110 %. Nunca, em nenhuma outra hora eu entro tão certeiramente em comunhão comigo mesmo, sozinho. Se eu conseguisse meditar, sei que seria assim. Quanto mais alto possível na hora certa, na altura baixa quando o consolo de uma voz amada está sempre ao alcance de um play. Que outra pessoa falando por mim de um jeito tão próprio e idêntico existiria. Ninguém. Meu lugar no mundo, já deslocado por natureza, ficaria orbitando sem sentido por aí, mais perdido ainda. Como uma estrela. De vez em quando acho que estou meio doente e me afasto dele por um mês ou mais. Fico um pouco culpado por que ele pode ficar ressentido, mas ele tá acostumado, é feito dessa matéria. ( tô ficando preocupado porque esse texto vai ser longo demais).
ENCONTREI MINHA PSIQUIATRA AQUI NO SHOW DE PORTO ALEGRE. Foi um choque bom. Vi que, com ela ali, eu estava no caminho certo. Não precisaria explicar um monte de coisas sobre mim. Minha confiança aumentou. Ela conhecia o trabalho do Morrissey e isso ajudava muito pra ela saber melhor quem eu era. O papo psiquiátrico sobre o Morrissey e minha obssessão já foi dissecado inúmeras vezes. Projeção, intolerância, saber que aquela pessoa é uma construção minha e não vai me decepcionar nunca, etc, etc, etc. Nada adianta. Yes, I am blind. Uns se drogam, jogam, comem, batem nos filhos. Eu tenho isso, essa coisa que não tem governo nem nunca terá. Que não tem vergonha nem nunca terá. Boy racer, we're gona kill this pretty thing.
A música é minha companheira de todas as horas. Entrou na minha vida muito cedo pelas mãos de meu pai. Até hoje ouço o gênio Chico Buarque como se fosse meu pai. É minha vida, se fosse só uma trilha sonora, acabaria em um momento. Comigo não. Eu acordo com ela e muitas vezes quando vou dormir ela continua me consolando, me embalando e quem trata de desligá-la é o timer. Chegou uma hora em que ouvir era pouco e tatuei a palavra music no meu braço. Desde então mesmo no silêncio ela está comigo. Música e Morrissey pra mim são sinônimos perfeitos. Morro de medo de ficar surdo. Não sei se suportaria.
IMORTAL NINGUÉM É. Eu penso na morte todos os minutos. Sei que as pessoas que eu gosto podem desaparecer sem sentido nem justiça de um segundo pro outro. Nessas horas eu tenho a certeza definitiva de que deus não existe me s mo. E se o Morrissey morresse ? E se ele estiver morto agora, enquanto escrevo ? Muitas vezes, do nada , eu penso isso - e se ele estiver morto ? Bem , daí a coisa vai ficar mais preta ainda. Acho que um novo tom de preto, mais escuro, vai surgir.
GOOD NIGHT AND THANK YOU.

Virado Por Dentro

ATÉ agora dos textos que eu escrevi o mais comentado no blog ou ao vivo foi o do neonazismo. Nada por acaso, é o mais pessoal. Parece ser só isso o que as pessoas querem saber hoje. Do íntimo, do visceral. É uma coisa normal até, faz parte. Um blog também serve pra essa exposição, todo mundo tá cansado de saber. É um pequeno Big Brother em que não se ganha dinheiro nem fama. Deleita-se quem lê, especialmente quem me conhece. Mas será que eu realmente quero me expor ? Eu poderia fazer um blog sobre aquarismo ou jardinagem, mas a quem interessaria ? Muito mais legal é conhecer as entranhas do blogueiro. Não é ?

QUAIS meus medos ? Quando e com quem eu transei pela primeira vez. O que me faz feliz ? Quanto dinheiro eu tenho ? O que eu planejo pro futuro ? Eu ainda tenho alguma sombra de esperança sobre mim mesmo ou sobre o futuro? Por que essa cegueira toda pelo Morrissey ? O que eu falo na terapia ? Como é meu casamento ? O quanto a beleza e o envelhecimento me afetam ? O que minha infância fez comigo para eu chegar até aqui assim ? Qual dos meus irmãos eu gosto mais ? Quais os meus desafetos mais importantes ? Quem eu me arrependo de ter tratado mal ou bem ?

E por aí vai. Quanto mais espinhoso ou íntimo melhor. Quem quiser saber uma dessas respostas ou quiser perguntar outra coisa, pode fazer.
PROMETO responder.

The Never-played Symphonies

Reflecting from my death bed
I'm balancing life's riches
Against the ditches
And the flat grey years in between
All I can see is the never laid
Of the never- played
Symphonies

I can't see those who tried to love me
Or those who felt they understood me
And I can't see those who
Very p a t i e n t l y
Put up with me
All I can see are the never laid
That's the never-played
Symphinies

You were one
You meant to be one
And you jumped into my face
And laughed and kissed on the cheek
And there where gone
Forever
But not quiet

Black sky in the day time
And I don't much mind dying
When there's nothing left
To care for
A n y m o r e
Just the never laid
The the never-played
Symphonies

You were the one
You knew you're the one
And you slliped right through my fingers
No Not literally
But metaphorically
And know you're all I see
As the light fades
As the light fades

Morrissey

sábado, 9 de maio de 2009

Sem A E I O U

Prmro form as grifs q cmçrm a rvtlzar suas mrcs ou chmr atenç p/ seus noms rtirand as vgais . Zmmp, Frm, Rbk, Tng, Rchds, Bgl. Provvlment tud cmçou msm na intrnt p/ a cois fcar + rpd aind. O fto é q agor scrvr s/ a e i o u em dfrnts suprts, sej papl, cel ou cmptdr, est se intrgrnd no dia-dia. É intrssnt. Q/ já ñ rcbeu p/ mail aquls txts c/ as ltrs das plvrs embrlhds e mesm assim o crbro consgu rconhc^- las s/ prblm nnhum. Se as plvrs vierem apns fltnd as vgais então n/ se fal. Clro q no incio é 1 pouc cmplcd escrvr s/ elas, mas c/ o tmp vc vai pgand o jeit.
Eu gost dess cois d nvdd e ñ acrdt q tod o futur apnt p/ 1 stuação pior, dstruídr d vlrs e ess babquic tod. Ñ sou do tip - Ah, no meu tmp as coisas erm mlhrs. Sou + como mnha vó q dz q hj as coisas s~ como s~, pont.
Se ess ngcio d crtar vgais vai pgar ou ñ vams ver c/ o temp, sempr el. Na minh parc opnião, eu diria q peg. Se fcilita, dev ser implmentd . E, send eu 1 prguiçs frrenh, sou amplmnt a favor do fm das vgais. estms em fase d refrma ortgrfic mesmo.
Q vienga el toro.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

MORRAM TERRÁQUEOS DE MERDA

SÓ mesmo enfiando um Green Day nos tímpanos para acabar com o dia infernal. Gente desgraçada sem noção nem respeito. São todos uns sapos sendo engolidos aos vômitos por mim. Não, as pessoas não tem mais jeito nem noção de nada. Parece que todo mundo está em constante surto egocêntrico. Morram. Por isso espero que o mundo acabe logo ou que minha morte venha rápida, a jato. Tô sempre de avião pra lá e pra cá e nunca acontece nada. Nas decolagens e aterrizagens fico torcendo : é hoje ! Essa merda cai e se arrebenta, derrapa qualquer coisa e tá tudo resolvido. Não pego nem turbulência. Não precisaria mais suportar a vida nem ficar contando as horas, intermináveis. Lulu Santos diz que a humanidade anda a passos de formiga. Eu já diria de ré.
Já passei dos 40, então já devo estar no meio dessa coisa toda. Tá de bom tamanho, nunca pensei chegar tão longe, anyway. Até pensei, mas ainda tinha uma tênue esperança de que o negócio melhoraria. Tem dias q só uma overdose ...

sábado, 2 de maio de 2009

Filmefobia OU Jogos Mortais VI ?

LI ONTEM no Terra uma matéria sobre o filme FILMEFOBIA. Aliás, to- tal- men- te igual ao texto publicado no jornal O Globo ... Well, o trabalho de Kiko Goifman acumulou prêmios de crítica e público em festivais nacionais. As exibições vem sendo marcadas pela polêmica. Na tela vamos apreciando um rosário de pessoas fóbicas cara a cara com o que gostariam de ver bem longe. Com exceção da fobia a botões de roupas e penetração, as demais são as clássicas : ratos, altura, palhaços, anões, seringas, sangue. O filme é concebido como um fake documentário. Jean Claude Bernardt, numa atuação explêndida, encarna o diretor. Pessoas comuns foram recrutadas por livre vontade a lidar com suas fobias. As questões dos limites éticos do cinema são postas à prova. Até onde pode ou deve ir a exposição ? Tudo devidamente filmado e fotografado. Masoquismio, sadismo, não importa. O cerne da questão é registrar o total apavaromento, se seguido de histeria, melhor para o filme. Fobia é mais que o medo, ela é incontrolável e quase sempre inexplicável. Uma mulher fica amarrada, esperando uma cobra imensa chegar perto, outra assiste a uma lesma se aproximar do seu nariz até o limite do suportável, e por aí afora. Fóbico a sangue, o próprio Kiko Goifman expõe sua aversão num dos poucos momentos mornos da realização.
IMPRESSIONADO MESMO fiquei com a semelhança perto da cópia descarada, chupada da série cinematográfica Jogos Mortais. O plot é completamente diferente. Jogos trata de punição, não de fobias. Mas a ambientação e cenários são mmmmuito parecidos. Tudo neles grita Jogos Mortais. A escuridão das cenas, a construção de máquinas e geringonças especiais para aprisionar os fóbicos aos seus medos, tudo é igual a Jogos Mortais. A sequência das serigas é emblemática. As pontudas se balançam penduradas no teto e são refletidas nos olhos da mulher através de um "babador espelho". Assim, a pobre não tem saída, já que não há como desviar os olhos de suas inimigas. Nada mais idêntico às construções mirabolantes de Jogos. O prêmio especial de plágio vai para a cadeira de rodas que Jean Claude pilota. Como em Jogos ela também é eletrica e quase sempre vista por trás, com a mesma iluminação e tomadas fantasmagóricas. A semelhança piora sabendo-se que Jean Claude está com crescente perda de visão, decorrente da sorologia positiva para HIV. Exatamente igual à produção hollywoodiana em que o sádico Jigsaw está com os dias contados por uma doença terminal. Só faltava a monstruosa máscara branca.
NÃO ACREDITO que algúem vá fazer qualquer comentário sobre esse "espelhamento" . A crítica brasileira , na verdade inexistente, prefere não mexer com o heróico cinema nacional. A maioria dos filmecos, produzidos graças às leis de incentivo do Planalto. Dessa maneira, o risco de produção e retorno do investimento pela bilheteria baixa muito e os tais heróis não me paracem tão bravos assim. Anyway.
UM FILME no mínimo interessante fui a fim de assistir e me deparei com essa cópia barata. Devo confessar, sou fã da série Jogos com toda aquela sua postura de se levar a sério sendo mais candidato a repousar na prateleira do trash bem produzido.
FILMEFOBIA SEGUE sua trajetória em festivais. Foi selecionado recentemente para participar de um na Alemanha. Neles bota-se no microscópio o que o filme tem de melhor. Ok, é o próprio cinema, sua linguagem e papel de agente que interage de maneira emocional, crítica e propulsora de questionamentos muito bem-vindos. Jean Claude Bernardt, ele próprio acadêmico e pesquisador incansável do cinema e seus desdobramentos, coloca questões muito oportunas sobre o que se desenrola na tela. É um filme-experimento interessantíssimo que escancara a metalinguagem inserida soberbamente em várias sequências do falso documentário.
MESMO ASSIM fica o gosto de já vi isso antes. Claro que os enredos são incomparáveis e seus objetivos enquanto cinema nem se discute. O que faltou foi ter se distanciado de uma estética tão próxima a de Jogos Mortais. Penso que talvez os realizadores nem conheçam Jogos Mortais e daí nos deparamos com outro grave problema. Quem faz cinema não vê cinema. A maioria é assim. Convivo com alguns casos. Conheço estudantes de cinema que não assistem filmes, crendo que reinventarão a roda. Cuidado, a roda já está quase sendo substituída.