segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Paulo Francis

MINHA adição ao Paulo Francis começou nas suas participações cruelmente hilárias no Jornal da Globo. Logo em seguida, ainda nos anos 80, virei leitor do Diário da Corte na Folha de São Paulo. Na época eu nunca tinha lido aquelas coisas em lugar nenhum, especialmente num jornal. Pra quem sempre gostou de atirar pedra, o elo foi imediato. Era realmente incrível o que ele escrevia diariamente naquela página imensa da Folha. Em uma mesma matéria discursava sobre a ralé cultural brasileira, discorria sobre história remota ou contemporânea, para arrematar com Freud, Lacan, ou os dodecafônicos.
O homem era um Google orgânico. Claro, tinha coisas que ele não sabia, mas como ele mesmo repetia - se eu não conheço é porque não importa. Grande Francis. Ninguém depois dele tem coragem para dinamitar a tudo e a todos sem disfarces nem floreios. Medalhões, quatrocentões, governo, tudo era dizimado até a ultima letra.
DIFERENTE dos mortais, criatura especial desde a juventude saboreada no auge do RJ nos anos 50, vivia cercado da nata intelectual e boêmia da época dourada. Jornalista desassossegado e indignado, abandonou o Brasil nos anos setenta, obedecendo ao "ame-o ou deixe-o". O auto-exílio em NYC foi definitivo.
MINHA loucura por Manhattan só aumentava com as notícias de Francis. Nos anos 90, o GNT completou a conexão. Todo domingo durante uma hora o desmedido Paulo Francis falava tudo o que queria, batia na mesa, cantava, dava seu show. Mas falou demais no Manhattan Conection. A Petrobrás não gostou e processou o jornalista e a liberdade de imprensa numa ação milhonária. O coração de Paulo Francis não resistiu à pressão. O problema com a Petrobrás acabou levando Francis muito antes da hora. Em homenagem a ele, visitei seu edifício na 3th av e olhei para o alto, na cobertura onde ele morava com sua esposa, Sonia Nolasco e seus gatos. Mal havia completado um mês de sua morte e a minha relação com a cidade ficou diferente desde então.
SOBRARAM seus livros e vídeos. Seu valor profissional é inconteste, quer se goste ou odeie aquela figura polêmica. A imprensa nacional hoje em dia está toda enfileirada em cima do muro, causando nenhuma polêmica.
WAAAL, que saudades.

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