sábado, 3 de outubro de 2009

LARS VON TRIER PERTURBA EM ANTICRISTO

EM tempos de Twitter e busca frenética por ser um dos primeiros 100.000 a ter o Google Wave é no mínimo desafiador assistir a duas horas lentas na tela. Especialmente com apenas dois atores em cena. Mas isso é tarefa realizada com maestria pelo genial Lars von Trier. O diretor dinamarquês, realizador da obra-prima Dogville (2003), estrelado por Nicole Kidman num cenário fixo atuando num imenso palco preto e o musical Dançando no Escuro (2000), que provocou crises homéricas na visionária Bjork, volta à polêmica.
DESSA vez Von Trier testou o terror com pitadas de sexo explícito. As cenas "adultas" se inserem perfeitamente num roteiro que mistura paganismo, mutilação da carne e da alma, histeria, morte, maldade atávica, teologia, psicanálise, seitas medievais e natureza selvagem. Durante 110 minutos reina o caos. Referências a O Bebê de Rosemary (1968) e, principalmente, O Ilumimado (1980) aparecem consciente ou inconscientemente, tanto na morte prematura do filho, como no isolamento na cabana, cercada pela floresta, o Éden.
EU não vou contar o enredo, nem memo fazer uma sinopse porque o filme merece ser visto na telona e não contado rapidamente, pecado mortal. É, sem dúvida, o melhor filme de 2009 so far. Willem Dafoe volta à forma conhecida no espetacular A Última Tentação de Cristo (1988), onde ele protagoniza um Jesus histórico e nem tão assexualizado. Já Charlotte Gainsbourg comprova sempre que traz os genes de seus pais aprimorados. Criativa e ilimitada tanto como atriz quanto cantora e compositora. Os dois ARTISTAS, na ampla e exata definição de seu oficio, não se furtam ao direito e ao prazer nas cenas de sexo. Corajosamente se expõem ao limite máximo do explícito, quebrando um tabu no cinema não X-rated, confinados em videolocadoras obscuras, mostrando seu sexo cirúrgico.
ANTICRISTO vai deixar qualquer um cheio de interrogações e de necessidade de pensar e repensar, verbos cada vez menos conjugados nesses tempos decadentes e risíveis. Como qualquer filme que tem o que dizer, tudo que se passa na tela e na trilha tem significado(s) e acontece porque deve acontecer. É como se acompanhássemos a decupagem em tempo real. As cenas em câmera lentíssima poderiam estar no acervo permanente de qualquer grande museu do mundo.
SE tudo isso não for o bastante para levar você ao cinema é porque você deve preferir um aborto que deu errado como o Metrô 123. Não esqueça de desligar o celular e desconectar o Twitter. Bom filme.

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