terça-feira, 28 de abril de 2009

Tour da Inquietação

Quieto, desarvorado
molhado e escorrido
na corrida das coxas
nos vales
vai seguindo sendo o outro
vai surgindo sendo o louco
enfiado no escuro buraco luminoso
do novo
engole esse segredo
digere esse calor
desfalece o capricho dessa timidez
seria mais fácil
se eu não fosse bobo e os seus dedos não fossem ilusão
se fosse só tesão
seria sem complicação
se falar não nos fosse bonito
se a banalidade fosse rainha
da situação.
Quieto, desarticulado
anda pela casa como quem segue uma estrada sem curvas
e o caminho é cheio de avisos
tudo é bonito e grave a 100 metros mas ele não lê
molhado e perdido jorra nas escadas
e acompanha a despedida
querendo a chegada
faz cortejo ao aceno

ao intervalo, ao corte obsceno
à desembolação dos corpos
e no entanto tudo era camiseta
amarrotada como esse tipo de coração
sua voz entra nos meus buracos
e grita em cada um deles em oitava
oito canais ... bananeiras de saudades, canaviais
(e eu que não tava esperando, meu deus).
Perambula pela sala, fura o tapete
de tanta repetição de passos no mesmo lugar
não nota
o disco volta, arranha, repete e fura, ele não vê
não ouve nada
caminha pelas alas
comissão de frente
comichão de gente, ele não entende
essa estanha capacidade que tem pra entender
e nem consegue pensar com seus dedos dentro dele
essa insistente boca no peito dele
esse cheiro de cabelo seu que de repente
invadiu as samambaias da casa
esses lábios chamando
beija beija beija
arranca os lábios e doa
assanha outros lábios e esquece
quieto por fora
inspeciona os cômodos
vê se as paredes não vão cair
e seu verdadeiro incômodo
é apenas essa ebulição pelo corpo
verão de emoção
vê se é possível dormir
não sabe se lava o copo onde ele bebeu água
não sabe n a d a
tem apenas escrúpulos e sabe que não se passa detergente
em lembranças
ele é doido
pisa em guimbas
morde os ares
e ele permanece na casa feito incenso
olha a cama onde ele não ousou pousar
e que deitar nesse aonde
quer esse monstro esse monge
que está pregado na fronha e no lençol
ele que mesmo sem se deitar
nunca saiu de lá
quieto desembestado
amanhã faz show paga as contas
queria só fazer versos
mas há um difícil pássaro
concentrado e disperso
que lhe enche as liras
e lhe põe em conexão
com o universo.

elisa lucinda

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