sexta-feira, 15 de maio de 2009

Deixe estar, vai passar

ESSA é uma das músicas que eu mais gosto da Marina. Deixe estar. Com sorte, muita sorte, vai passar. Não se assuste se tudo enguiçar .
INFELIZMENTE EU conheci a Marina muito tarde. Claro, conhecia ela dos hits do rádio e achava bem legal. Daí, um dia, comprei o quinto disco dela. Se arrependimento matasse eu já estaria nas cinzas. Como sempre, comprei tudo que faltava. Voz rouca, cantando as poesias do seu irmão, as vezes só dela, raríssimas vezes de outros. Tudo num "padrão antes". E eu me perguntava como eu não tinha me dado conta desse padrão antes mais cedo. Ela antecipava um conceito, uma visão, um modernismo sem modismo, um estilo de vida com muito estilo, que eu classificava e classifico de antes. Fui picado e daí pra frente, no universo dela fui mergulhando.
MARINA TEM MAR no nome. As letras são recheadas de mar, maresia, marinheiro, marujo, marola, marinho, maré e tudo que o mar possa transformar em versos. Garota Zona Sul. O Rio de Janeiro vem na voz, gravado no DNA. As canções atuais tem sido compostas sempre com bases eletrônicas. O flerte com o eletrônico começou no início dos 80, se transformou em namoro e depois veio a relação estável. Eu adoro. Nessa época o país ainda acreditava que Mutantes eram os eternos modernos, coitadinhos. Não estou discutindo a imensa genialidade dos caras. Ave Mutantes.
A MARINA É MUITO COOL. E essa expressão é rara de ser usada no Brasil. Afinal, quem é cool no Brasil ? Não me ocorre ninguém. A Marina passou grande parte da infância nos Estados Unidos. Na volta definitiva pra cál, com a família, de transatlântico, cantou na companhia de Tom Jobim, que fazia um show em alto mar. Pois é, a estreia no palco foi no meio do oceano. Ela não tinha gravado nenhum disco ainda. Cool.
EU E A MARINA TEMOS A MESMA LOJA PREFERIDA, a Urban Outtfiters, de Nova York. Li isso numa Caras, hehehe. Ela teve uma grande depressão há uns anos atrás. Perdeu os famosos graves em decorrência da fase péssima, mas pra mim não mudou nada. Ficou uns anos sem gravar nada. Era solidão com vista pro mar. O disco seguinte foi oportunamente batizado de Registros à Meia Voz. Foi muito bem recebido pelo público e o cd seguinte chamou-se Abrigo. Era uma referência a acolhida dada pelos fãs, traduzida na vendagem de Registros. O Hotel Marina quando acende em Ipanema brilha mais. Naquela época eu escrevi um texto sobre ela numa revista on line na qual eu tinha uma coluna. O texto acabou nas mãos da carioca através empresária. Marina gostou do que leu. Eu tive uma resposta direta de que tinha pegado o punch da história. Foi muito legal. Aqui em Porto Alegre fui convidado pra ir conversar com ela no camarim do show de Abrigo, mas minha baixa auto-estima foi mais forte. Falei com ela em duas outras ocasiões, mas rapidamente. Ela é muito pequena, magra e branca como papel.
QUANTOS SHOWS EU JÀ ASSISTI DELA, perdi a conta. O mais marcante foi um que eu estava na segunda fila. Tinha extraído os quatro cisos, com anestesia geral, e ainda não estava na hora de sair de casa. O som alto e grave reverberava pelos pontos e vibrava nas cavidades de uma maneira que só quem tirou os 4 cisos de uma vez só e foi ver um show antes da recuperação pode saber. A dor ia e vinha em salvas, aplausos e bis. Eu faço esse tipo de coisa. Como já disse no último texto, eu sou um homem de plateia. Já voltei da praia antes do tempo pra ver a Maria Bethânia, que por sinal, fez sua primeira incursão no mundo da batida eletrônica gravando uma canção da Marina, foi Doce Espera. O resultado tem que ser ouvido.
QUANDO A MARINA PARTICIPOU DO SAIA JUSTA desvendei umas coisinhas sobre ela. Descobria a cada programa mais um pouco daquela personalidade que eu supunha conhecer. E até que conhecia mesmo. Na verdade ela me surpreendeu. A inteligência, o humor, o conhecimento de psicanálise e a maneira de colocar as ideias me empolgaram. Yes. Acredito que a chamaram pro Saia pela sua amizade com a Fernanda Young, e, claro, porque ela tinha a ver com o brain storm show. As duas são amigas e comadres. Marina é madrinha de uma das filhas da histérica, fazida e fantástica escritora.
RECENTEMENTE MARINA FEZ 50 ANOS. Trendy litlle thing. Mais do que uma vida. Amiga e colega de Cazuza. Imagino o que poderiam estar aprontando juntos. Parceira de Lobão, Fernada Porto, Lulu, Adriana Calcanhoto, Caetano, Zizi Possi, Christian Oyens, Martinho da Vila, Paulinho da Viola, Tom Jobim, Rita Lee, Suba, e, claro, Antônio Cícero. Já gravou o ícone multimídia - Laurie Anderson. Pousou nua pra Playboy. Fez temporada de quatro meses em hotel de São Paulo a peso de ouro. Participou de filmes. É habitué de estreias e desfiles. Está gravando todo o próximo cd aqui em Porto Alegre. Foi o primeiro clip da MTV Brasil, inaugurando em terra brazilis a retransmissora americana com sua versão de Garota de Ipanema. Mix da bossa nova com a new bossa. Tom Jobim e Marina, de novo, ela com suas antenas sempre girando, cooptando e captando o Antes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário