segunda-feira, 18 de maio de 2009

SIMPLESMENTE FELICIDADE

A FELICIDADE INSTANTÂNEA ESTÁ NA NOVELA. Acredita quem for suficientemente estúpido. No filme Simplesmente Felicidade a coisa não é bem assim. Ali o sério e o engraçado viram alegria. A genuína felicidade de Popy, a protagonista, causa estranheza dentro e fora da tela. Uma pessoa incondicionalmente feliz ?! ? Como assim ?????? A heroína é uma balzaquiana londrina que é feliz, antes de tudo e de todos. Assim, simples, feliz. Quem não gostaria de ver o mundo pelas lentes dela ?
A ABERTURA DO FILME DÁ UMA IDEIA DO QUE VEM POR AÍ. Vemos essa mulher com um sorrisão nos lábios, uma satisfação contemplatória andando de bicicleta pelas belas ruas de Londres. Observando melhor a sequencia nos damos conta de que ela não está andando de bicicleta. Popy está passeando. Aproveitando o momeinto, inteindi ? Chegando ao destino, prende sua bike num cadeado, vai a uma livraria de bairro. Quando volta a bicicleta não está mais lá. Foi roubada. Reação : pena que não deu tempo pra eu me despedir dela, diz Popy, e sorri. É tolo, mas no desenrolar da trama tudo vai se encaixar com muita graça . Tudo por culpa e obra da atriz Sally Hawkins, em um desempenho soberbo, que lhe rendeu um Globo de Ouro. Vamos aprendendo que essa singular criatura é uma ótima pessoa, namoradeira, adora dançar e tem a palavra sim sempre pronta. Professora de crianças de seis anos, se preocupa de verdade com elas. Ou seja, tem uma vida comum, mas encara tudo de um jeito diferente, leve.

MOMENTO DE REFLEXÃO BUDISTA - O que aonteceu conosco que não somos nem uma pálida lembrança de Popy ? O mundo, a vida nos endureceu ? Não acredito. A maldade, a crueldade e a desintegração geral de tudo nos amedronta ? Sim. A televisão dissemina o medo e a competição ? Também. Mas não é só isso. A desesperança é mais fácil. Claro que é. A preguiçosa desesperança. Pessimismo não dá trabalho. Esse chavão é verdadeiro, ser feliz dá trabalho e é meio bobo. É uma dessas coisas que temos que cultivar, regar diariamente. Eu, confesso padre, porque pequei, deixei minha felicidade na maior seca desde sempre. E acho que isso vem acontecendo com grande parte de nós.

È POSSÍVEL EXISTIREM POPYS NO MUNDO ? Será que existem ? Como eu disse lá em cima, no universo televisivo existe. E nossa insatisfação aumenta na medida em que a vida dura de todos os dias vai envergando esperanças e os momentos que eram pra ser bons vão sendo borrados por uma tinta cinza aniquilante. Popy e suas amigas conversam sobre assuntos espinhosos da vida contemporânea com propriedade crítica e clareza. Nada abala nossa Poliana século XXI. Nada afeta seu humor. Nem A Família. Numa briga com a irmã certinha Popy reclama para si o direito de ser como ela é, sem querer se preocupar com aposentadoria privada ou a idade "certa" para ter filhos.

ESTOU ESCREVENDO UM TEXTO CÍCLICO DENTRO DE UM LABIRINTO. As paredes são feitas de perguntas insolúveis, respostas fáceis e afirmaçõse banais. Não sou um expert nesse negócio de contentamento e felicidade. Por isso estou me perdendo. Talvez não devesse escrever um texto conhecendo apenas o lado negro da força. A questão é esse filme ter balançado o meu trono de infelicidade e derrota, aborrecidamente cotidianas. Normalmente estamos bem instalados ali no conforto de nossas convicções e valores absolutos. Ocasionalmente vem um tornado e leva tudo. E agora ? Seguimos nosso castelo de regras pessoais onde somos senhor e escravo ou olhamos para o lado piscando torto para o desconhecido ?

2 comentários:

  1. Fernando, detestamos o filme! Só em momento a pobre coitada teve contato com realidade, quando levou pau...apesar dela ter consciência como no caso do aluninho violento. No mais, acredito que o diretor sugere que a felicidade está na alienação. Talvez... Conversando na terapia fiquei sabendo que tem distúrbios do humor em que a pessoa está sempre lá encima, não oscila...

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  2. Olha Caco, o buraco é mais fundo . Cada pessoa constrói a realidade em que pode sobreviver. Acho tb que nenhum bom diretor queira sugerir mais nada no sec XXI, isso é muito piegas. Pra finalizar, se uma pessoa esta sempre feliz, ou pra cima, isso não deveria ser chamado de distúrbio, mas de dádiva. abç

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