sábado, 2 de maio de 2009

Filmefobia OU Jogos Mortais VI ?

LI ONTEM no Terra uma matéria sobre o filme FILMEFOBIA. Aliás, to- tal- men- te igual ao texto publicado no jornal O Globo ... Well, o trabalho de Kiko Goifman acumulou prêmios de crítica e público em festivais nacionais. As exibições vem sendo marcadas pela polêmica. Na tela vamos apreciando um rosário de pessoas fóbicas cara a cara com o que gostariam de ver bem longe. Com exceção da fobia a botões de roupas e penetração, as demais são as clássicas : ratos, altura, palhaços, anões, seringas, sangue. O filme é concebido como um fake documentário. Jean Claude Bernardt, numa atuação explêndida, encarna o diretor. Pessoas comuns foram recrutadas por livre vontade a lidar com suas fobias. As questões dos limites éticos do cinema são postas à prova. Até onde pode ou deve ir a exposição ? Tudo devidamente filmado e fotografado. Masoquismio, sadismo, não importa. O cerne da questão é registrar o total apavaromento, se seguido de histeria, melhor para o filme. Fobia é mais que o medo, ela é incontrolável e quase sempre inexplicável. Uma mulher fica amarrada, esperando uma cobra imensa chegar perto, outra assiste a uma lesma se aproximar do seu nariz até o limite do suportável, e por aí afora. Fóbico a sangue, o próprio Kiko Goifman expõe sua aversão num dos poucos momentos mornos da realização.
IMPRESSIONADO MESMO fiquei com a semelhança perto da cópia descarada, chupada da série cinematográfica Jogos Mortais. O plot é completamente diferente. Jogos trata de punição, não de fobias. Mas a ambientação e cenários são mmmmuito parecidos. Tudo neles grita Jogos Mortais. A escuridão das cenas, a construção de máquinas e geringonças especiais para aprisionar os fóbicos aos seus medos, tudo é igual a Jogos Mortais. A sequência das serigas é emblemática. As pontudas se balançam penduradas no teto e são refletidas nos olhos da mulher através de um "babador espelho". Assim, a pobre não tem saída, já que não há como desviar os olhos de suas inimigas. Nada mais idêntico às construções mirabolantes de Jogos. O prêmio especial de plágio vai para a cadeira de rodas que Jean Claude pilota. Como em Jogos ela também é eletrica e quase sempre vista por trás, com a mesma iluminação e tomadas fantasmagóricas. A semelhança piora sabendo-se que Jean Claude está com crescente perda de visão, decorrente da sorologia positiva para HIV. Exatamente igual à produção hollywoodiana em que o sádico Jigsaw está com os dias contados por uma doença terminal. Só faltava a monstruosa máscara branca.
NÃO ACREDITO que algúem vá fazer qualquer comentário sobre esse "espelhamento" . A crítica brasileira , na verdade inexistente, prefere não mexer com o heróico cinema nacional. A maioria dos filmecos, produzidos graças às leis de incentivo do Planalto. Dessa maneira, o risco de produção e retorno do investimento pela bilheteria baixa muito e os tais heróis não me paracem tão bravos assim. Anyway.
UM FILME no mínimo interessante fui a fim de assistir e me deparei com essa cópia barata. Devo confessar, sou fã da série Jogos com toda aquela sua postura de se levar a sério sendo mais candidato a repousar na prateleira do trash bem produzido.
FILMEFOBIA SEGUE sua trajetória em festivais. Foi selecionado recentemente para participar de um na Alemanha. Neles bota-se no microscópio o que o filme tem de melhor. Ok, é o próprio cinema, sua linguagem e papel de agente que interage de maneira emocional, crítica e propulsora de questionamentos muito bem-vindos. Jean Claude Bernardt, ele próprio acadêmico e pesquisador incansável do cinema e seus desdobramentos, coloca questões muito oportunas sobre o que se desenrola na tela. É um filme-experimento interessantíssimo que escancara a metalinguagem inserida soberbamente em várias sequências do falso documentário.
MESMO ASSIM fica o gosto de já vi isso antes. Claro que os enredos são incomparáveis e seus objetivos enquanto cinema nem se discute. O que faltou foi ter se distanciado de uma estética tão próxima a de Jogos Mortais. Penso que talvez os realizadores nem conheçam Jogos Mortais e daí nos deparamos com outro grave problema. Quem faz cinema não vê cinema. A maioria é assim. Convivo com alguns casos. Conheço estudantes de cinema que não assistem filmes, crendo que reinventarão a roda. Cuidado, a roda já está quase sendo substituída.

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