sexta-feira, 24 de julho de 2009

Minha Tríplice Santíssima, ou Cada um tem o Deus que quer ter.

THE CURE
Já me acabei de elogios e exposição de intimidades nos textos sobre o Morrissey e a Marina. Como não fechar o trio fantástico com o Bob Smith e o seu mitológico Cure ?
.O THE CURE invadiu a minha vida antes do Morrissey e da Marina. Tudo foi culpa do Marcelo, um ex amigo meu do colégio. Devíamos ter uns 14 anos e aquelas letras cheias de melancolia e tristeza acompanhadas por uma música sublime num mundo cinza-chumbo eram tudo que queríamos ouvir. Me lembro da louca da mãe do Marcelo me perguntando com total desentendimento da situação: meu filho, por que o Marcelo só ouve essas músicas tristes ? O que eu poderia responder para aquela mãe sem noção ? É o que ele gosta, respondi eu, encerrando o assunto.
.ERA DO que eu gostava também. Junto com o Cure veio Kraftwerk, Laurie Anderson, Jean Michael Jarre e Cocteau Twins.
Já vi num desses insuportáveis programas insuportáveis sobre ídolos do rock dizerem que a voz, o jeito de cantar e o cabelo do Robert Smith são reconhecíveis no meio de um trilhão de pessoas. Verdade total. O vocal é muito único e inimitável. Ninguém canta daquele jeito doce, alto, sussurrado e desesperado, como se fosse um gato sendo torturado dentro de uma lata de metal jogada de um penhasco durante uma nevasca. Todas as músicas possuem uma textura própria mas sempre com a mesma assinatura. Pra mim, o que constrói uma obra de arte é essa sucessão de assinaturas trabalho após trabalho. É uma banda de texturas por definição. Uma música dele, mesmo sendo inédita, começa a tocar e você sabe, isso foi trabalhado, tecido e composto pelo Robert Smith. Falar em The Cure, depois de tantas décadas de formações diferentes não me parece exato ou justo. The Cure é Smith.
.NOS ANOS 80 todo mundo queria vestir as roupas desconstruídas e usar o cabelo e a maquiagem dark, leia-se, The Cure. O mundo copiou e levou a sério. O preto cobriu o Ocidente de norte a sul. Dezenas de sub-cures acharam seu lugar nas rádios mundo a fora. Isso deixava os fãs como eu e o Marcelo pra morrer. São surfistas, não entendem um verso de qualquer música, mas adoram In Between Days, como assim, esbravejavo-mos ? Mas era moda e moda passa logo. Passou. A produção smithiana continuou prolífera como sempre. Respiramos aliviados e continuamos garimpando lados b, regravaçõs, gravações raras e imagens smithianas. As minhas viagens para NY facilitaram tudo e depois com a internet, todo mundo sabe.
.NÃO DÁ pra escrever um texto sobre essa banda e conseguir não citar o clássico visual exdrúxulo do nosso band leader. Quem o vê pela primeira vez, estranha, pra dizer o mínimo. Mas se acostuma um segundo depois. É quase impossível conseguir uma imagem de Robert Smith sem maquiagem e sem cabelo arrumado (?!). O batom vermelho nunca dentro da linha dos lábios, o olho preto marcadão e mal delineado e o cabelo negro meticulosamnete desgrenhado são as três marcas campeãs nas infinitas caricaturas. Marilyn Manson orgulhosamente nunca escondeu que seu visual é pós Smith. O pessoal do Panic at The Disco idem. O som é imitado, inspirado e reverenciado por milhares de bandas pelo planeta. The Killers, um dos meus favoritíssimos adora soar The Cure e canta aos quatro ventos o viés inspirador da banda em seu trabalho. As bandas novas e velhas não plageiam o Cure, seria impossível. Elas adoram reinventar. Algumas, como o Killers conseguem.
É estranhíssimo que com todo peso das letras e da música , Bob Smith tenha recebido o apelido de Theddy Bear. Fofinho como um ursinho de pelúcia, ele nos deixa sem direção. Como um cara tão fofo canta coisas tão obscuras, já perguntaria Marcelo's mother. É, as aparências enganam mesmo.
.EU OUÇO música o dia inteiro, já disse. Pra mim o silêncio é música. Eu ouço The Cure todos os dias e me policio para não ficar preso às lembranças da adolescência. É sempre para lá que sou arrastado por um Bob Smith eternamente jovem. Mesmo ouvindo o novo cd lançado nesse ano, meu pensamento com o The Cure sempre retrocede aos anos 80. Sempre. Essa década nunca acaba mesmo. Rewind total. Naquela época o The Cure eclodia uma confusão de sentimentos em mim. Esperança, desesperança, encontro, descentralização, futuro, idade. Tudo sem absolutamente nenhuma resposta. Ainda é assim hoje. E sendo asim, tudo fica mais estranho ainda porque os tempos se misturam. E quando tempos e lugares se embaralham você não sabe mais quem você é nem onde você está, nem nada. Mas você sabe que aquela música, aquela melodia, localiza você como uma bússola apontando sempre na mesma direção.

Um comentário:

  1. Puta q pariu, como é q tu escondeu esse talento pra dizer as coisas por tanto tempooo??? Tô me achando uma visionária ao ter te incentivado a fazer esse blog. Da tua fã número 1.

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